A sensibilidade sensorial é uma característica comum no Transtorno do Espectro Autista (TEA), e ela se manifesta de maneira distinta em cada criança. A maneira como as crianças com autismo percebem e reagem aos estímulos sensoriais pode variar significativamente, levando a comportamentos que podem ser difíceis de entender para quem está ao redor. Essas reações podem ser divididas em dois grupos principais: hipersensibilidade e hipossensibilidade. Ambas podem afetar a rotina diária e o bem-estar da criança de maneiras importantes.
O que é sensibilidade sensorial?
A sensibilidade sensorial refere-se à forma como o cérebro processa informações recebidas por meio dos sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar. No caso do TEA, o processamento desses estímulos pode ser alterado, fazendo com que a criança reaja de forma exagerada ou reduzida a certos estímulos. Essas reações são uma parte natural do autismo, mas podem ser desafiadoras tanto para a criança quanto para as pessoas ao seu redor.
Hipersensibilidade: reações exageradas a estímulos
A hipersensibilidade ocorre quando a criança tem uma percepção aumentada de determinados estímulos sensoriais. Para essas crianças, sons, luzes ou texturas podem ser intensamente desconfortáveis ou até dolorosos. Exemplos incluem:
Sons altos ou inesperados: Crianças com hipersensibilidade auditiva podem ficar angustiadas com sons comuns, como o barulho de um liquidificador, uma buzina de carro, ou até mesmo a música em um ambiente mais movimentado. Elas podem cobrir os ouvidos, gritar ou se afastar da fonte do som, demonstrando desconforto.
Luz intensa ou luzes piscando: A percepção de luz também pode ser mais aguçada. Crianças com TEA podem achar difícil estar em lugares com luzes fluorescentes fortes ou mudanças rápidas de iluminação, o que pode causar ansiedade ou até dor.
Texturas e roupas: Algumas crianças com autismo são extremamente sensíveis ao toque e podem ter aversão a certos tecidos ou à sensação de etiquetas nas roupas. Roupas de materiais ásperos ou apertados podem causar desconforto significativo.
Hipossensibilidade: reações reduzidas a estímulos
Por outro lado, a hipossensibilidade é quando a criança tem uma percepção reduzida ou insensível a estímulos sensoriais. Em vez de reagir com desconforto, ela pode não perceber estímulos que outras crianças ou adultos consideram evidentes ou desconfortáveis. Exemplos incluem:
Pouca reação à dor: Algumas crianças com TEA não demonstram a mesma reação à dor que outras. Elas podem se machucar sem chorar ou parecer não perceber a dor ao se cortar, bater, ou se ferir de outras maneiras.
Pouca sensibilidade a temperaturas extremas: Crianças com hipossensibilidade tátil podem não perceber mudanças de temperatura de maneira típica. Elas podem não se sentir desconfortáveis em um ambiente muito quente ou frio, e podem não perceber que estão se machucando ao tocar objetos quentes ou muito frios.
Busca por estímulos intensos: Crianças com hipossensibilidade podem buscar estímulos intensos, como girar em círculos, balançar o corpo ou tocar objetos de maneira repetitiva, para estimular seus sentidos de maneira que as crianças típicas não necessitam.
Como lidar com a sensibilidade sensorial no TEA?
A gestão da sensibilidade sensorial é uma parte fundamental do tratamento do TEA, pois pode afetar o comportamento da criança, seu humor e até mesmo sua capacidade de aprender e interagir com o ambiente. Aqui estão algumas estratégias que podem ajudar:
Criação de um ambiente sensorialmente amigável: Adequar o ambiente ao redor da criança pode fazer uma grande diferença. Isso pode incluir o uso de fones de ouvido para reduzir ruídos, iluminação suave, ou até mesmo roupas mais confortáveis e sem etiquetas.
Rotinas previsíveis e transições suaves: Para crianças com hipersensibilidade a mudanças, uma rotina estruturada e a utilização de avisos antes de mudanças (como uma contagem regressiva ou um aviso visual) pode ajudar a reduzir a ansiedade.
Intervenções terapêuticas: Terapias como a Terapia Ocupacional podem ser úteis no desenvolvimento de estratégias para lidar com a hipersensibilidade ou hipossensibilidade, ajudando a criança a se adaptar melhor ao ambiente e a se comunicar de forma mais eficaz.
Desensibilização gradual: No caso da hipersensibilidade, técnicas de desensibilização gradual podem ser aplicadas, onde a criança é progressivamente exposta a estímulos sensoriais de uma maneira controlada para ajudá-la a tolerá-los melhor ao longo do tempo.
Conclusão
A sensibilidade sensorial é uma característica fundamental do TEA e pode variar muito de uma criança para outra. Identificar essas reações sensoriais e entender como elas afetam o comportamento da criança é um passo importante para promover um ambiente de aprendizado e bem-estar. Se você percebe que seu filho está reagindo de maneira intensa ou reduzida aos estímulos sensoriais, é importante buscar o apoio de profissionais especializados para orientações sobre como ajudar a criança a lidar com esses desafios.